Do paredão à Daslu

Mais um janeiro se inicia, trazendo a esperança e renovação para um novo ano. Pra alguns, apenas mais um dia depois de tantos outros. Porem, muitos estão aguardando fervorosamente a estréia do programa que há mais de 10 anos diverte, causa polêmica e não acrescenta em absolutamente nada ao povo brasileiro. De verdade. A não ser que você seja um estudioso de comportamento, e que queira observar como caras marombados e mulheres gostosas se relacionam dentro de uma casa cheia de mordomias e conforto, e ainda correndo o risco de ganhar algumas cifras, possa achar que o Big Brother possa ter alguma importância na formação da opinião de um cidadão. Nossa, e como sofremos com suas crises de identidade, sexualidade e moralidade. Nossa, eu sofro muito. Sofro em como alguém possa realmente se sujeitar a este tipo de exibição vazia, sem fundamento, com pessoas que fingem uma felicidade e uma tristeza que beira o ridículo. Fala sério, isso é mais do que uma afronta. O que eu acho mais engraçado é ver como as pessoas nas redes sociais gostam de salientar “pague minhas contas para ter o direito a falar da minha vida” são justamente aquelas que dão mais audiência a este programa. Tipo, não falem de mim, mas, você viu o beijo que a Marcinha deu no Flavio do BBB? 

Bem, e como se não bastasse, uma outra emissora resolveu colocar um programa de igual importância para concorrer com a audiência do BBB. Ter a brilhante idéia de colocar senhoras abastadas para jogar na cara do povo brasileiro o quanto somos miseráveis, não é pra qualquer um. Assisti alguns segundos deste nobre seriado, denominado Mulheres Ricas. E até agora eu juro que não entendi o propósito, de tamanha surrealidade que estava sendo estampada aos meus olhos. Porque se a intenção era fazer o telespectador de palhaço, parabéns, vocês conseguiram mais uma vez. Fiquei horas em depressão, pensando...Sim, eu também sempre sonhei em ter um cabeleireiro só pra mim. Mas enquanto isso, aquele ribeirinho que vive no interior da floresta vai pensar...O que elas estão falando? Sim, porque é algo distante demais da realidade dele e da maioria do povo brasileiro o esbanjar de tantas futilidades. E acho que realmente este tipo de exibição só causa mal estar e uma ganância dos desfavorecidos que darão um jeito de conseguir este status das formas mais originais, e porque não dizer, inescrupulosas. 

Estes programas são exibidos em rede nacional, em canal aberto. Ah, e que inveja deve ter aquele pobre coitado que bebe água podre de cisternas no interior do árido sertão nordestino ao ver o cachorrinho da madame tomando água mineral. Não que o animal não mereça, muito pelo contrário. Todos merecem, mas poucos o tem. E imagina você, com a oportunidade de aparecer na mídia e ganhar fama diariamente e ainda poder terminar com 1 milhão de reais? Ou quem sabe apenar mostrar meu lindo traseiro e ganhar uns trocados em uma revista masculina? Nossa, o Globo Ecologia, o Globo Universidade, e até porque não dizer, o Globo Rural, são transmitidos às 6 horas da manhã dos sábados e domingos! Os únicos dias que eu me recuso a acordar cedo. Isso eu acho um desrespeito comigo.   

No mais, não digo que a televisão deva exibir somente tragédia e desgraça. Não, muito pelo contrário. Precisamos de beleza, já que esta é contagiante (como diria aquele comercial de cosméticos). Mas, por favor, nos afrontar com mulheres fúteis que poderiam usar pelo menos parte de sua fortuna com algo realmente humanitário ou com exibição de pessoas belas, esculturais e que vivem umas crises cuja falsidade é mais do que estampada é muita ousadia. Sinto-me com a minha inteligência subestimada e desrespeitada, e creio que o direito a liberdade de comunicação poderia ter pelo menos um limite humano. O meu, de tanto agüentar essa baixaria e hipocrisia, já acabou.

         Uma música para finalizar: “a televisão me deixou burra, muito burra demais...”

M.Sc. Larissa Sbeghen Pelegrini,

 Bióloga, mãe e professora.